A IMPRUDÊNCIA
A capacidade humana de desvendar alguns mistérios da criação de Deus
erroneamente tem a tendência de fazer do homem o centro racional, lógico e
fundante de toda a nossa história, desde os tempos não conhecidos até, segundo
seu juízo, ninguém sabe quando.
Embora o homem nunca tenha criado nada do que existiu, do que hoje
existe ou daquilo que possa vir a existir (pois ele mesmo é uma criatura), o
seu desejo de saber as verdades de Deus o transformou em um imitador, de tal
forma que, em aparente igualdade, ele se julga o centro de todas as coisas, o
principal motivo pelo qual tudo foi divinamente criado; dessa forma, quer fazer
com que a humanidade acredite que a descoberta de minúsculas partes do “todo”
possa transformá-lo na Suprema Sabedoria.
Mas, na realidade, o que alguns desejam é a imanentização do fim último
da vida humana, pois com malícia e persuasão retórica estes imitadores tentam,
em vão, transgredir a história do homem para desviá-lo de sua eterna vocação à
palavra de Deus, ou seja, há a clara intenção de promiscuir a história do homem
e reduzir suas perspectivas ao plano meramente terreno.
Entretanto, “todos” nós sabemos, mesmo aqueles que se rebelaram contra a
misericórdia de Deus, que o fim último e eterno da nossa história está na meta
história e que a finalidade da vida humana está na vida eterna, ou seja, fora
da vida terrena.
É neste exercício racional que o homem se torna imprudente, pois perde a
virtude de tomar as decisões certas. Através deste erro fundamental, ele perde
a capacidade de ser prudente no seu agir; nele não há mais virtude. Só erros,
ignorância, soberba, inveja e a desobediência. Ele perde todo o senso da
racionalidade sã doada graciosamente por Deus. O homem invejoso atrai para si
uma tragédia espiritual.
Como consequência deste ato infame, que é a pretensão de se igualar, ou
até mesmo superar a Deus, a prudência do homem se distorce e não é mais
reconhecida como realidade humana. O homem passa, então, no seu turbilhão de
juízo deturpado, a impor à vida humana finalidades inadequadas, vez que afastam
o homem definitivamente da presença de Deus. O rompimento do homem com o amor
divino é definitivo e irrevogável pelas más obras humanas. Além deste ato
insano, o homem, com o mesmo propósito, ainda que de forma “maquiada”, procura
para sua vida uma finalidade boa, porém presa ao mundo terreno.
Ao contrário, o homem prudente, quando do seu exercício racional em
relação à sua finalidade humana, de forma humilde, delibera, julga e comanda
retamente a sua finalidade, que é alcançar durante toda a sua vida terrena a
vivência na vida eterna junto ao Pai Celeste. Por isso, ele, sabiamente,
escolhe como princípio de agir um fim honesto para dirigir a sua racionalidade
ao encontro da Fé.
Fr. José Antonio Rocha.
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