sábado, 23 de abril de 2016

                                        Da Corrupção e da Soberba

A corrupção entrou no mundo para igualar a beleza e a alegria das coisas de Deus, em sua plenitude divina e de graça, com a desgraçada fraude perpetrada pela serpente, cujo vício era querer ser como Deus.
A corrupção, portanto, nasceu da inveja de lúcifer que não consegue aceitar que Jesus Cristo é a única Luz do mundo, é a única Verdade e o único Caminho que leva a todo homem que vem a este mundo ao encontro do Pai, que nunca se cansa de nos esperar com os braços abertos.
A corrupção, que provém de toda a malícia, que é inimiga da sabedoria, seduziu os primeiros pais. Eles eram livres para dizerem não à corrupção, mas, por serem realmente livres, exerceram, por vontade própria, o mau uso do livre arbítrio e se deixaram corromper pela morte.
A corrupção, então, amaldiçoou aqueles que se deixaram desgraçar com o exílio da Graça de Deus. Já desgraçados por vontade livre e consciente, eles se deixaram corromper ainda mais com o orgulho, a inveja e a desobediência. A humildade e a obediência à Graça de Deus se transformaram em soberba e rebeldia.
A corrupção dos primeiros pais, para ser em um sistema humano, necessitava tornar-se um hábito mental que pudesse, com o tempo, com uma infame liberdade desobediente de agir, através de uma fraudulenta igualdade e de uma satânica fraternidade, transformar o pecado em um modo de viver, em um estilo de vida aparentemente sempre atual, bom, justo e justificável.
A corrupção, então, fez com que toda a descendência da serpente, do primeiro homicida, se sentisse embriagada pelo orgulho de ser um falso deus, vez que, nesta condição de desgraça, ela não necessitava mais de perdão e de misericórdia, pois seus atos abomináveis seriam, todos eles, justificados pelo seu próprio comportamento insano.
A corrupção fez, pois, do corrupto um reflexo perfeito, enquanto imperfeição, do seu corruptor, que nunca se arrepende da sua loucura. A corrupção passou a ser uma realidade própria de todo filho do pecado original. Por isso, ele nunca se arrepende; ele apenas justifica seus atos corruptos como se fosse vítima da Graça e da Misericórdia infinita de Deus. O corrupto passa a falsa impressão de que sempre é a vítima.
A corrupção faz com que o corrupto, embriagado pelo orgulho, desconheça a humildade, embora, maliciosamente, faça bom uso dela para enaltecer a sua soberba. Enquanto vive uma vida dupla, externando a sua vitimização, ele, por vezes, se faz e, quase sempre, é confundido como cristão. Mas, não devemos nos enganar com a sua vida dupla.

A corrupção, portanto, e sabiamente, nunca pode ser interpretada ou aceita como um simples e individual ato humano; ao contrário, ela é um mal permanente, um crime continuado no proceder histórico do homem. Ou seja, a corrupção é uma condição necessária para a vivência de todo aquele que se afastou voluntária e definitivamente da Graça de Deus, tornando-se, desde então, um desgraçado.
A corrupção, dessa forma, por ser uma condição errática de viver, contamina mortalmente o estado pessoal, de cada indivíduo, e social, de todo um grupo diabolicamente corrompido. A corrupção escraviza toda uma cultura, toda uma sociedade, toda uma existência, pela habitualidade de viver de forma corrupta e fazer crer que esta é uma realidade boa e que premia todo o homem que é bravo, livre e não temente a Deus.
A corrupção faz com que uma sociedade livre e cristã, pela soberba, inveja e desobediência, possa se transformar em uma sociedade escrava da corrupção, não se deixando questionar por ninguém a respeito de seus atos abomináveis. Dessa maneira, ela se fecha na sua falsa autossuficiência, cujo princípio ativo é a atitude fraudulenta travestida de oportunismo justificado.
A corrupção, com tal nefasta, decadente e enganosa autossuficiência paga um preço alto demais pela sua loucura que é a própria dignidade do corruptor, do corrupto e de todas as pessoas de boa vontade que são perseguidas por causa da sua fé, ética e moral judaico-cristã.  
A corrupção, por ser a raiz de todo o mal que entrou no mundo do paraíso para retirar de lá os primeiros pais, não pode ser, inadvertidamente, considerada como um simples estado de pecado. Ela vai muito além disso, ela vai além do fato de ser um pecado a mais. Estas duas infames realidades, embora distintas, são interligadas e refletem dois homens distintos, isto é, corrupto e pecador.
O corrupto, por se achar um deus, acredita, ainda que no seu íntimo saiba que não é verdade, mas uma grande mentira, que a sua autossuficiência, o seu ínfimo conhecimento do bem e do mal, o seu poder de destruição, fazem com que ele não mais necessite pedir perdão, vez que considera com verdadeiro, embora não o seja, somente aquilo que o transforma em escravo e que é muito bem escondido pelas aparências como, por exemplo, o fato de se colocar perante o mundo como se fosse sempre uma vítima da intolerância.
Enquanto o pecador, que ainda não se tornou corrupto pela reiteração livre e consciente da prática sistemática de pecar ou pela distorcida compreensão de ser e de agir como se fosse autossuficiente, pode se reconhecer como tal e perceber que aquilo a que aderiu como verdade é falso. Por se perceber, novamente livre, o pecador pode, com humildade, voltar aos braços de Deus para ser perdoado pela Sua infinita Misericórdia. O pecador descobre que sempre que cair pode pedir perdão, pois o amor de Deus não tem limite e a Sua misericórdia é maior que todo o pecado.


Fr. José Antonio Rocha.

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