Da
Corrupção e da Soberba
A
corrupção entrou no mundo para igualar a beleza e a alegria das coisas de Deus,
em sua plenitude divina e de graça, com a desgraçada fraude perpetrada pela
serpente, cujo vício era querer ser como Deus.
A
corrupção, portanto, nasceu da inveja de lúcifer que não consegue aceitar que
Jesus Cristo é a única Luz do mundo, é a única Verdade e o único Caminho que
leva a todo homem que vem a este mundo ao encontro do Pai, que nunca se cansa
de nos esperar com os braços abertos.
A
corrupção, que provém de toda a malícia, que é inimiga da sabedoria, seduziu os
primeiros pais. Eles eram livres para dizerem não à corrupção, mas, por serem
realmente livres, exerceram, por vontade própria, o mau uso do livre arbítrio e
se deixaram corromper pela morte.
A
corrupção, então, amaldiçoou aqueles que se deixaram desgraçar com o exílio da
Graça de Deus. Já desgraçados por vontade livre e consciente, eles se deixaram
corromper ainda mais com o orgulho, a inveja e a desobediência. A humildade e a
obediência à Graça de Deus se transformaram em soberba e rebeldia.
A
corrupção dos primeiros pais, para ser em um sistema humano, necessitava
tornar-se um hábito mental que pudesse, com o tempo, com uma infame liberdade
desobediente de agir, através de uma fraudulenta igualdade e de uma satânica
fraternidade, transformar o pecado em um modo de viver, em um estilo de vida
aparentemente sempre atual, bom, justo e justificável.
A
corrupção, então, fez com que toda a descendência da serpente, do primeiro
homicida, se sentisse embriagada pelo orgulho de ser um falso deus, vez que,
nesta condição de desgraça, ela não necessitava mais de perdão e de
misericórdia, pois seus atos abomináveis seriam, todos eles, justificados pelo
seu próprio comportamento insano.
A
corrupção fez, pois, do corrupto um reflexo perfeito, enquanto imperfeição, do
seu corruptor, que nunca se arrepende da sua loucura. A corrupção passou a ser
uma realidade própria de todo filho do pecado original. Por isso, ele nunca se
arrepende; ele apenas justifica seus atos corruptos como se fosse vítima da
Graça e da Misericórdia infinita de Deus. O corrupto passa a falsa impressão de
que sempre é a vítima.
A
corrupção faz com que o corrupto, embriagado pelo orgulho, desconheça a
humildade, embora, maliciosamente, faça bom uso dela para enaltecer a sua
soberba. Enquanto vive uma vida dupla, externando a sua vitimização, ele, por
vezes, se faz e, quase sempre, é confundido como cristão. Mas, não devemos nos
enganar com a sua vida dupla.
A
corrupção, portanto, e sabiamente, nunca pode ser interpretada ou aceita como
um simples e individual ato humano; ao contrário, ela é um mal permanente, um
crime continuado no proceder histórico do homem. Ou seja, a corrupção é uma
condição necessária para a vivência de todo aquele que se afastou voluntária e
definitivamente da Graça de Deus, tornando-se, desde então, um desgraçado.
A
corrupção, dessa forma, por ser uma condição errática de viver, contamina
mortalmente o estado pessoal, de cada indivíduo, e social, de todo um grupo diabolicamente
corrompido. A corrupção escraviza toda uma cultura, toda uma sociedade, toda
uma existência, pela habitualidade de viver de forma corrupta e fazer crer que
esta é uma realidade boa e que premia todo o homem que é bravo, livre e não
temente a Deus.
A
corrupção faz com que uma sociedade livre e cristã, pela soberba, inveja e
desobediência, possa se transformar em uma sociedade escrava da corrupção, não
se deixando questionar por ninguém a respeito de seus atos abomináveis. Dessa maneira,
ela se fecha na sua falsa autossuficiência, cujo princípio ativo é a atitude
fraudulenta travestida de oportunismo justificado.
A
corrupção, com tal nefasta, decadente e enganosa autossuficiência paga um preço
alto demais pela sua loucura que é a própria dignidade do corruptor, do
corrupto e de todas as pessoas de boa vontade que são perseguidas por causa da sua
fé, ética e moral judaico-cristã.
A
corrupção, por ser a raiz de todo o mal que entrou no mundo do paraíso para
retirar de lá os primeiros pais, não pode ser, inadvertidamente, considerada
como um simples estado de pecado. Ela vai muito além disso, ela vai além do
fato de ser um pecado a mais. Estas duas infames realidades, embora distintas,
são interligadas e refletem dois homens distintos, isto é, corrupto e pecador.
O
corrupto, por se achar um deus, acredita, ainda que no seu íntimo saiba que não
é verdade, mas uma grande mentira, que a sua autossuficiência, o seu ínfimo
conhecimento do bem e do mal, o seu poder de destruição, fazem com que ele não
mais necessite pedir perdão, vez que considera com verdadeiro, embora não o
seja, somente aquilo que o transforma em escravo e que é muito bem escondido
pelas aparências como, por exemplo, o fato de se colocar perante o mundo como
se fosse sempre uma vítima da intolerância.
Enquanto
o pecador, que ainda não se tornou corrupto pela reiteração livre e consciente
da prática sistemática de pecar ou pela distorcida compreensão de ser e de agir
como se fosse autossuficiente, pode se reconhecer como tal e perceber que aquilo
a que aderiu como verdade é falso. Por se perceber, novamente livre, o pecador
pode, com humildade, voltar aos braços de Deus para ser perdoado pela Sua
infinita Misericórdia. O pecador descobre que sempre que cair pode pedir
perdão, pois o amor de Deus não tem limite e a Sua misericórdia é maior que
todo o pecado.
Fr.
José Antonio Rocha.
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